Um Filme Minecraft’: do fenômeno nas redes à nova aposta dos cinemas

 A fórmula curiosa de 'Um Filme Minecraft', estrelado por Jack Black e Jason Momoa, mira diretamente no público jovem. A produção repete os orçamentos robustos de adaptações como Sonic e Super Mario Bros., mas parte de uma base bem diferente: ao contrário dessas franquias, que apelam à nostalgia, Minecraft se apoia na inventividade.

O sucesso do jogo da Mojang Studios não veio da genialidade de seus desenvolvedores, mas da criatividade infinita de seus jogadores. Lançado em 2009, Minecraft continua entre os títulos mais vendidos do mundo porque oferece um leque imenso de possibilidades. Gerações Z e Alpha abraçaram isso com força, reinventando constantemente seu significado — construindo mundos, criando tramas e até desenvolvendo novos jogos dentro do próprio jogo.

Não por acaso, o game se tornou o mais vendido da história, com mais de 300 milhões de cópias comercializadas em diferentes plataformas. E mais: Minecraft entrou para a coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York, ao lado de clássicos como Pac-Man e Pong.

O impacto vai além. O jogo foi um dos pilares na construção da cultura gamer no YouTube e nas redes sociais. Sua popularidade impulsionou criadores a compartilharem suas construções e aventuras em vídeo — alguns, como MrBeast e PewDiePie, construíram impérios a partir desses bloquinhos.

É justamente esse contexto que torna a adaptação para o cinema um desafio mais complexo que o de outras franquias. Um Filme Minecraft tenta traduzir para a telona os valores comunitários e criativos do jogo, com uma trama familiar que também busca atrair novos jogadores.

O esforço do diretor Jared Hess às vezes lembra uma partida tensa de Tetris, tentando alinhar tudo sem perder o controle. A boa notícia é que boa parte do tempo o filme funciona. Só escorrega perto do final, quando a trama busca um clímax grandioso demais — e aí transparece um certo peso publicitário no projeto. Ainda assim, Hess mantém firme o tom inocente da narrativa, centrada na união de personagens diferentes pela paixão pelos jogos.


A história acompanha dois irmãos órfãos tentando se adaptar a uma nova cidade e um ex-jogador profissional, vivido por Jason Momoa, que luta para manter viva sua loja de games dos anos 1980. Sem grandes perspectivas, os três são transportados para o universo pixelado de Minecraft ao encontrar um misterioso cubo azul. Lá, conhecem Steve, interpretado por Jack Black — um sujeito que trocou o mundo real pelo prazer de criar com blocos. A missão do grupo passa a ser salvar aquele universo, construindo casas e ferramentas ao longo da jornada.

A estrutura remete a outras adaptações, como Detetive Pikachu e Super Mario Bros., onde personagens do "mundo real" mergulham no universo do jogo. Mas Um Filme Minecraft é bem menos frenético e mais contido nas referências: não exige que o público saiba o que é um Creeper e evita citações a youtubers ou memes famosos do jogo.

Esse tom mais tradicional ajuda. Permite que o filme se concentre em seus pontos fortes — especialmente o humor entre Black e Momoa, que navega entre o absurdo e a comédia física para encantar os pequenos. Os efeitos visuais também colaboram, suavizando os pixels em uma estética simpática de cubos fofos.

No fim, o longa adapta Minecraft a uma lógica comercial, mas sem trair a essência do jogo. E isso o diferencia num momento em que Hollywood parece obcecada em agradar fãs com piscadelas constantes, muitas vezes em detrimento da narrativa.

Dentro do cenário atual de adaptações de games, Um Filme Minecraft é quase uma zebra num estábulo de cavalos. Ele não quer apenas mimar os jogadores de 2009 — quer abrir as portas do seu mundinho para novos exploradores.




Por: Ana Luisa Vieira
@naluisavieira


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